O Mundo do VIP.
Diretamente do blog do Jamari - O Globo.
Alguma coisa estranha está acontecendo no Rio de Janeiro. Ou sempre foi assim e só agora percebi. O fato é que, talvez pela sanha em ser alguém especial, (um VIP!!) ou simplesmente falta de din din no bolso, o povo está descontrolado e não quer pagar para entrar em lugar nenhum! O mais estranho disso tudo é perceber o invisível e não-pronunciado código de conduta nos relacionamentos sociais estabelecido entre os cariocas com o passar dos anos. Ser importante é não pagar entrada, seja num show de rock ou num festival de música. Se você é um produtor que deu duro pra conseguir botar de pé seu show, ralou muito pra arranjar um patrocínio que ajudasse nos custos, convenceu as bandas a tocar dividindo lucros, está dependendo da bilheteria pra pagar os funcionários e as contas, mas é meu amigo de verdade, vai me dar um convite.
Acho que uma boa comparação, embora um pouco distante, é pensar nas mulheres retratadas de antigamente. Eram todas gordas, porque status era ter o que comer. E se você é gorda, é porque é rica, bonita e bem nascida. Hoje em dia, a história é outra. Se você é uma pessoa rica, bonita e bem nascida de verdade, então você é um convidado vip, sempre, e não paga nada, nunca! Mesmo que seu amigo produtor se foda por causa disso.
Cariocas, (só para esclarecer: falo dos cariocas porque moro aqui e pouco me importa se em São Paulo ou Nova Iorque é assim também!) são capazes de traquejos sociais difíceis de compreender. Ligar e ter a cara de pau de convidar a si mesmo para a SUA festa, ok, mas não fira o código invisível, nunca diga que não tem mais entradas, ou que a lista de convidados já ultrapassou o número do bom senso. Isso é ofensa pessoal!! Negar um convite vai te colocar na lista negra de pessoas desagradáveis que precisam ser evitadas. Pois cariocas estão preparados para pedir, mesmo que não te liguem nunca, não te encontrem há anos, nem te conheçam direito, mas não estão preparados para ouvir um “não” como resposta e ficar bem com isso.
Trabalho lá no Circo Voador. E só porque faço parte do quadro de funcionários, pessoas acham que tenho o poder supremo de “colocar pra dentro”. Outro dia chegou uma loira platinada e eu estava na lista. O nome dela não constava, não dei o convite. No dia seguinte ela escreveu no blog dela que eu era “incompetente e sem noção”. Meu Deus, o que foi que perdi?! Será que ela é a Rainha da Cocada Preta e eu não sabia?? Puxa, as Rainhas da Cocada não podem ficar de fora, o que seria das festas sem elas... E que tal, pagar? Também outro dia conversava com uma amiga na porta de sua loja de sapatos. Papo vai, papo vem, de repente ela empinou o nariz, estufou o peito, fez cara de solene e cheguei a pensar que cantaria o hino nacional, mas com dedo em riste, bradou orgulhosa: “Meu namorado nunca pagou para entrar em lugar nenhum!!” Oras, eu compro sapatos na loja dela há anos e nunca ganhei sequer um desconto. Festas, shows, festivais, são produtos como outro qualquer, como sapatos. Ou por acaso entra alguém na loja, põe sapatos debaixo do braço e sai dizendo, olha só, querida, sou vip, tá?!
Não sei de onde vem a impressão que entretenimento é de graça. As pessoas esquecem que para que estejam ali se divertindo, outras têm que trabalhar para isso acontecer. Se os músicos da sua banda preferida estão em cima do palco, existe uma infinidade de técnicos, roadies, motoristas, secretárias, assessores, empresários, faxineiros, seguranças, pessoal de bar, de bilheteria, produtores, estagiários, boys, cozinheiros, todos trabalhando, com filhos pra criar e contas a pagar, que movem a máquina, que fazem acontecer e dependem da bilheteria. Se todo mundo resolver ser vip - aliás, que palavrinha odiosa - , se todo mundo resolver que não vai pagar, acabou-se o que era doce. E não adianta vir com a desculpa que é “do meio”. Se é do meio, aí mesmo é que conhece as dificuldades e sabe como é duro trabalhar com entretenimento hoje em dia. Ainda mais se você não tem uma grande empresa patrocinando, injetando dinheiro, cobrindo despesas, pagando salários e bancando camisas para globais na área vip.
- Julia Ryff é assessora de imprensa do Circo Voador.
3 Comments:
Porra Rocks! Fazer clipping (sem nem comentar!) dos blogs dos outros é vacilo ...
Matéria maneira, mas como eu sou VIP, quero que essa vaca se fôda :D
AEEEEEEEEEEEEE,
soh sei uma coisa... eu sou V.I.P.
tem cotacao de dolar especial para VIP???? pq quero saber... quanto ta o dolar?????
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